RETRATOS de LITERATURA ILUSTRADA - Prosa & Poesia & Fotografia
sexta-feira, 13 de setembro de 2013
Ser de arte
A câmera é extensão, a caneta é extensão, o teclado é extensão... do ser de arte. Assim, continuidade do braço, gatilho da arma, mala da viagem... remédio do coração. Espécies de filtro, espelho, coador... são via de drenagem, fio condutor. Os conteúdos - múltiplos mundos - passando por esses veios, tomam forma de expressão.
Antes pena, depois lápis, hoje tecla. O tempo transforma os apetrechos onde deitamos dedos, por onde derramamos letras. Altera os instrumentos que portam imagens, levando ideias à exposição. Enquanto homens servem-se de ferramentas, artistas associam-se a elas, têm nelas parte de si.
A arte demanda mais que utilizar um instrumento.Vai além de movimento, do estar por estar, do agir por agir. Criação envolve energia, sentidos acoplados à emoção, em desvelo atento. Desses pequenos grandes detalhes partem as diferenças entre registros e fotografias, telas e obras primas, escritos e textos imortais.
Não basta o desejo de compor. Não basta posicionar-se com caneta, máquina, pincel. Não basta atuar: correr um formão, empunhar uma máquina, apertar botões. Técnica não é tudo. O ato mecânico não é capaz da letra maiúscula. Realizar, com R, pede mais que mero fazer. Essa alquimia carece de algum fogo, alguma dose de calor... interior.
O artista, que nem sempre tem domínio pleno das ferramentas, as empunha, as opera... deixando-se também levar. Com frequência desconhece aonde anda, onde vai. É uma mistura de condutor e conduzido, mestre e aluno do momento. Por vezes veículo, por vezes motorista, é sempre passageiro de aventura, desafiando espaços vazios. Posta-se frente ao anteparo ansiando preencher-lhe com domínio. Assim, em tentativa de parir, dar parte ao novo, coloca-se diante de um nada concreto. Alcança o intento quando, e somente quando, consegue somar, sobrepor várias porções de si. Então, mais que corpo presente, com sentidos ativados, a alma toma a emoção, que emerge.. em arte: flor e fruto, consciente e inconsciente.
Ah, nada é criado - com C - sem algum devaneio, sem algum passeio pelas emoções ! Alguns precisam voar, perder-se completamente para saber onde pisar, encontrar chão. Outros carecem apenas soltar-se, dar vazão de si, sem tentar impor controle. E há quem ache também isso loucura.
O que surge do homem sempre expressa algo seu. O que surge do artista é o ser em seu estar. Expõe suas vísceras, contém história misturada às suas lentes, inseparável de si. A criação o revela, entrega sua soma, suas possibilidades de momento, da superfície clara ao abismo profundo.
Criadores geniais têm instantes de terra, de ar, de fogo, de água. Trafegam o tempo sendo brisa e ventania. Ora rio, ora mar, ora vulcão. Podem vomitar textos, tintas... em lavas, em chamas. Podem pilotar paletas, papel... placidamente, sem tensão. Sua pele esfria quando não Cria. Seu semblante serena quando consegue.
O homem age, exercita-se... e procria. O artista concebe, com orgasmos, dando à luz. Qualquer um registra, poucos fotografam. Qualquer um traça, poucos pintam. Qualquer um amassa, poucos esculpem. Alguns olham, nem todos veem. Alguns executam, nem todos realizam. Qualquer um expõe, poucos comunicam. O teor de uma obra é conjunto. Não basta ser lúcido, não basta ser insano, não basta querer para Criar. Nessa equação conta a atenção, conta emoção, imprescindível ter prazer !