RETRATOS de LITERATURA ILUSTRADA - Prosa & Poesia & Fotografia
terça-feira, 4 de agosto de 2015
Da pele de dentro
Emoções nos vestem de dentro para fora. São espécie de mucosa, estrutura de intercâmbio. Pele profunda, moldando o ser pelo avesso. São tecidos invisíveis que sustentam e afloram, externando conteúdo.
Shakespeare já dizia que somos feitos da matéria de nossos sonhos. O que são senão anseios, desejos: propulsores etéreos ?! O que são senão emoções ?!
A carne de contornos, a substância de massa a que chamamos matéria viva, vibra animada por algo além do rubro sangue. Pulsamos movidos à energia da emoção, substrato impalpável que gerencia essa estrutura que se vê. A ciência ratifica.
Ah, que mal cuidadas nossas vestes intangíveis ! Tal qual forro, o abstrato que nos suporta recebe remendos eventuais. Em caráter de emergência, é cerzido a pontos grossos, triviais. Atentar ao invisível ? Cuidar do subjetivo ? Já é tão trabalhoso administrar o que se vê !
Emoções são irrefletidamente plantadas e colhidas por nós. Inadvertidamente neglicenciamos seus sinais e seu poder, atendendo senão a alarmes de incêndio, chamuscados pelas chamas.
O corpo fala. A vida nele soa, ecoa. Emoções constituem seu motor. Alimentá-las com cuidados é zelar do avesso que cedo ou tarde toma a face de fora. A pele interna expressa-se em saúde ou doença, bem ou mal-estar de existir.