RETRATOS de LITERATURA ILUSTRADA - Prosa & Poesia & Fotografia
terça-feira, 17 de novembro de 2015
Eis a questão
Pensar ou não ? Eis a questão. A interrogação por acaso faz parte de seu repertório de vida ? Interessa-se em nadar no mundo das ideias, navegar espontaneamente por mares nunca dantes navegados...mentalmente... por si ? Pode ser interessante.
Não aventurar-se nessa senda e aceitar algumas crenças embaladas para viagem, também pode ser sedutor. Não dar-se ao trabalho de exercitar a mente satisfaz muita gente. Afinal, tanto há já, naturalmente, a tratar no plano do concreto; certo ?! Fácil entender porque cedemos à comodidade das respostas prontas em contraponto ao exercício das reflexões.
Pensar, filosofar não tem fim. Uma coisa puxa outra e o novelo pode desenrolar-se ad eterno. De uma questão brota uma nova e quanto mais resposta se obtém mais pergunta pulula, aparece. Além disso, toda aparente certeza é provisória. Ainda que não tenha prazo de validade pré-estabelecido, é uma questão de tempo até que novos dados surjam, somem-se e modifiquem conjunto, podendo por por terra todo entendimento anterior. Às vezes é de dar nó em pingo d'água, sim; senhor ! E mais: não é só porque a prática acontece à cabeça, esfera abstrata, que não configura exercício. Ahhh, pode ser cansativo !... Consome energia... e nem sempre a recompensa é imediata, pelas vias da endorfina.
É uma atividade viável a sós, de prática possível ao sofá, no aconchego do lar... ou qualquer outro lugar. Mas talvez sem auxílio, um apoio de entendido para dar uma mãozinha, guiar a jornada, seja uma senhora empreitada. Pra quem não veio ao mundo aos moldes de um Platão ou Epicuro & cia, pode ser muito bem-vinda uma certa assessoria. Nada como poder contar com entes afeitos ao trabalho, talhados ao desafio de enveredar o profundo mar do pensamento, para uma jornada prazerosa e produtiva !
E por onde começar, com quem trocar ideias ? Com eles mesmos, por que não ?! Tantos há ao alcance das mãos, de nosso olhar. Seguem viajando pelos tempos para assentar conosco, lado a lado, e assoprar suas conjecturas, teorias, descobertas. Habitam livros, têm endereço hoje também às telas. Basta postar-se diante do oráculo e adentrar. Imediatamente uma enchente de informações pode nos inundar. E aí começa, já, o exercício... de filtrar. É sensato peneirar, separar joio de trigo, escolher fontes ricas de beber e embriagar-se. Também prudente é a observação de que, como com poesia e prosa, ler filosofia é diferente de ler ficção. Pede algum mergulho, alguma introspecção.
A partir de então advém a aventura. Cada cabeça uma sentença e são muitas as cabeças... pensantes do diverso. Para um mesmo objeto muitos olhares, diferentes vias de observação e conclusões particulares. Ficar à mercê de um pensador é pouco... porque apenas parte. Não há visões totais, amplas e definitivas o suficiente para eliminar todas as demais. Não é possível embarcar numa ideia e dá-la como plena. Todas são parciais, ainda que inquestionáveis para um determinado autor. Ao aceitar uma como tal, sem enveredar universos paralelos, incorre-se em crença, apenas mais uma. E, assim, portanto, pensamento limitado. Sim, esse passeio não tem fim !
Por que fazê-lo, então ? Por que esse exercício passaria pela mente de alguém são ? Essa resposta é um pouco mais fácil... mas ainda, contudo, incompleta. Que tal ampliar horizontes, oferecer-se mais ferramentas ? Melhor poder contar com maior arsenal de lida com a vida; não ?! Pode ser um benefício conhecer elementos sobre os quais outros já deitaram exaustivas atenções, desdobraram esforços para elucidar usos e efeitos. Dominar mais e melhores ingredientes pode ajudar a elaborar receitas de viver pessoal mais interessantes e saborosas. Claro, isso não é nenhuma garantia ! O empenho, entretanto, parece positivo. Mas, sejamos sinceros, se a vida viesse com manual quem se aventuraria a tal ?
Talvez apreender um conteúdo como inquestionável, viver doutrinado por dogmas, possa simplificar um pouco a existência. Talvez credos assim, unificadores e fortes, poupem quem os professa de algumas dores naturais da dúvida e ofereça, sem esforço, algum consolo: predicados muito desejáveis. Isso poderia representar uma vantagem ante o universo infinito e trabalhoso das reflexões.
Talvez aceitar respostas prontas seja cômodo, possa nos poupar um pouco desse trabalho... mas também nos empobreça, limitando desenvolvimento de potenciais. Nada como sair da zona de conforto, enveredando o novo, para empreender mudanças ! E se alguém quer fazer alguma diferença em si e seu redor deve poder tentar equipar-se melhor.