RETRATOS de LITERATURA ILUSTRADA - Prosa & Poesia & Fotografia
segunda-feira, 23 de setembro de 2013
Palavras também choram
Palavras mais que falam. Gritam, afogadas em sentimentos. Sussurram, em assuntos delicados. Andam, pisando com cautela. Bailam... pelo entendimento. Abraçam, carinhosas; ninam, com cuidados. Correm, escorrem... na emoção. Saltam, umas entre as outras, de repente... dependendo da tensão, dependendo da atenção.
Palavras são lençóis, são vestes, são lanças... e alimento. São pães, salgados, doces de confeitaria. Palavras prometem e também mentem enquanto contam. Sustentam e distraem. Divertem, riem... e também choram.
É, palavras também choram. Vertem lágrimas silentes quando não exprimem a contento. Padecem quando mal entendidas, ardem quando machucam. Lacrimejam escondidas, sem leitor... em pesar interior. Derramam-se, invisíveis, sem velar a tela, sem molhar a face... do papel.
Textos também sentem dor, padecem de cólicas, contrações de emoções não expressas. Contidos, estampam mensagens anêmicas, sem a cor do sangue em suas veias. Frases hipotensas empalidecem a prosa, a poesia. O verso escolhe o silêncio nessas horas, prefere recolhimento. Opta por descanso a caminhar sem essência. Prefere a prisão ao vagar da ideia, sem vestir o pensamento com sentimento.
Sim, as palavras sofrem presas: limitadas a construções pobres, acorrentadas ao lugar comum, correndo em revezamento de linhas... sem alma !... Quando o sentimento lateja entre as letras, pulsa em intervalos de suspiros. Quando demandam corpo e não têm voz, murmurando metades, balbuciando sentidos.
As palavras têm poros, respiram em seu desfile. Exercitam-se em significados, nadando mares de intenções. Palavras são armários... de mensagens. Têm portas, gavetas, fundos falsos. Esperam em vírgulas, escondem-se em reticências, latentes, sendo enceladas em pontos. Palavras proferidas levam outras à espreita, disfarçadas, subentendidas. São mulheres: gestantes que perecem ao não parir.
Palavras só são felizes lidas, ouvidas... bem recebidas. Quando caminham, decolam pelas pistas do peito, de mentes, e pousam mansas... ancorando coração.