Abaixo a amostra grátis... de afeto !

Este é um manifesto por melhores condições de trabalho... nas relações. Um manifesto por melhores salários... afetivos, por mais evidentes manifestações de bem-querer.

Não ao sentimento preso, recluso sem demonstração ! Não ao afeto escravo, unilateral, de mão única ! Não à afeição refém de cobranças ! Não ao relacionamento à expensas de migalhas, exercitado em cuidados minguados ! 

Este é um manifesto pelo carinho expresso, pelo bem-querer cultivado, regado com tento, dedicado em pequenos atos, com frequente revelação. Um manifesto a favor de energias emanadas, simpatias partilhadas, de corações mais abertos, refletidos em ações. Enfim, por mais delicadeza - bem tão em desuso: uma tristeza ! Tão mais ricas seriam as ligações fosse essa uma moeda corrente.

Abaixo as más condições de carinho !... Quando o anúncio é de dedicação integral e apresenta-se nada além de amostras grátis. Quando o contrato é de jornada plena e o comparecimento só às folgas. Quando o combinado é regime de hora extra e... raso o holerite.

Abaixo as pobres condições de moradia interior !... Quando a promessa é de pensão completa e a entrega, só marmita. Quando a propaganda é de casa com quintal e o alojamento do outro é em um puxadinho, lá no fundo.

É preciso ter sala de estar que convide a ficar... pra fazer romance, viver o filme - com mais comédia e menos drama - sem ter que sonhar com o da televisão. É importante oferecer quarto amplo em coração... pra gente querer ficar pra dormir. A casa do peito deve ter varanda pra colocar rede e embalar os sentimentos, ninando o outro com balanço doce de ternura. Tem de ter comida quente... que não queime, espaço arejado pra receber convidados, refresco de brisa às janelas dos olhos. Ah, essa casa, sem portas trancadas, deve despertar desejo... de não sair !

Abaixo o "ficar" fortuito, eventual, os sequestros relâmpagos de atenção, as corridas pelos corredores do amor, as visitas íntimas prisionais, a condenação à solitária afetiva ! Queremos casa no peito, comida no coração, roupa lavada na mente ! 

Tem hora que é direito ser caracol, guardar-se, aquecer-se em concha do abraço alheio. Tem hora que é dever ser polvo e envolver o outro em tentáculos de segurança. Todo mundo quer ser a estrela do mar do outro, o mexilhão de sua concha. Todo mundo quer lago em que o outro nade, ter piscina nele pra mergulhar... e refrescar a vida, lavar a alma. Seja ele amigo, marido, pai, filho, namorado. Tenha ele nome de peixe ou não.

Este é um manifesto a favor da plena jornada no amor. Por mais beijos, toques e olhares doces, por mais gentilezas. Porque todos são bem-vindos... e capazes de curar: remédios sem bula, de efeito positivo comprovado ao bem- estar. Não há frio que resista a um cobertor de abraços, ao calor de beijos. Não há vazio que não se preencha um pouco, ao menos, com boas doses dessas substâncias ativas.

Imprescindível investir nesse mercado ! Depositar afagos no outro, fazer fundo no banco das relações. Reajustar os pedágios de amor... para cima. Deixar maiores contribuições nas caixinhas alheias, e nas particulares também, por tabela. Não esperar cobranças, intimações, ir a juízo. Vamos engordar nossas doações, fazer o "adulto-esperança": um show ao vivo... de afeto ! Insano não ser essa uma prioridade de governo pessoal !

Conclamo a todos que percorram as avenidas desfilando sentimentos bons com ações objetivas. O movimento é justo.

Irei às ruas da palavra, pelos caminhos da prosa e da poesia. Farei barulho com silêncio. Portarei faixas a favor do fino trato. Farei passeata em prol das delicadezas, panelaço por mais volume de beijos, mais calorosos abraços, acréscimo nos olhares de ternura, afagos em suaves prestações... a perder de vista.

Esta é uma marcha, em suma, por mais declarações de amor.