RETRATOS de LITERATURA ILUSTRADA - Prosa & Poesia & Fotografia
quarta-feira, 18 de junho de 2014
Economia não inteligente
No mundo das finanças a economia é uma base inteligente. É importante, praticamente imprescindível que se aprenda a poupar, que se reduzam gastos, que se exercite a contenção. Ah, mas nas esferas do afeto, não !
No departamento gente, no universo das relações pessoais, o sucesso segue senda diferente. Enricar tem outro sentido, vai em outra direção. Crescimento tende a acompanhar entrega, toma vulto ante oferta, proporcionalmente a outorga, gasto, cessão. Um instrumento producente é a doação. Impossível somente esperar, manter-se em zona de conforto, requerer presença. Fundamental ir ao encontro. Abrir a porta também.
Afeição que não se guarde, benquerença que se manifeste ! Esbanjá-las não desgasta, nem de longe diminui ninguém. É produtivo não ser contido na expressão do sentimento positivo. Como conveniente ser assertivo em sua exposição. Profícuo também ser um tanto perdulário, dissipador no carinho, dedicado à atenção. Esses exercícios só geram benefícios, são plurais ao coração.
Há quem, receando julgamentos, tenha pavor de mostrar-se, cisma de deixar-se penetrar e conhecer. Que, temendo expor-se, sinta, sofra... só. Que não demonstre, não se entregue, não partilhe de si. Que, cativo de medo, pratique o ataque, acrescentando distância, afastando o desejado... de modo a isolar-se ainda mais.
Há quem, a despeito de carente, seja tão refém de orgulho que se faça prisioneiro inconsciente. E intensifique a própria sentença, aumente o próprio martírio. Engrosse suas grades, oprima-se em cela invisível.... sem dar-se conta de tê-la ajudado a erguer. E assim, velando a própria visão, abasteça o coração... de frustração, de padecer.
Há quem perturbe-se por pudores, valorizando o irrisório, o dispensável, de aparências. E quem - em suposta preservação - feche-se em concha, faça-se ilha, enrijeça... mumi-fique. Que desperdice convívios, pessoas, momentos preciosos... reprimindo-se, guardando-se.... para entender, adiante, que deixava de ganhar o importante.
Há quem, com maquiagens, recuse-se a dar - de verdade - o que anseia receber. Ou que, racionalizando em demasia, atravesse as estações do coração... em camisa de força auto imposta, de mente: loucura de ser aparentemente são !
Há muitos que se guardam até não terem a quem se dar. Há muitos que se guardam até perderem o que possuíam. Há muitos que se dão conta quando a conta não lhes dá... nada mais a fazer. Porque o tempo se foi... e eles se foram também, sem ser autênticos consigo mesmos e com a experiência de viver. Há quem, assim, percorra a vida sem viver o que perdeu. Ou venha a descobrir... tarde demais, tendo privado-se do que era para ser seu.
Não, não há muita inteligência nesse tipo de economia. A felicidade - prosperidade que computa os bens do peito - dá-se na soma de pequenos presentes... de afetos transparentes.