quarta-feira, 16 de julho de 2014

Ode ao cidadão



Você ainda não sabe que um ato seu gerou sorriso, satisfação. Seu nome merece circular nesta coluna mas, por enquanto, uso um substantivo singular - atualmente um tanto abstrato - nomeando-o "cidadão". Este, ainda que termo aparentemente genérico, aponta espécime raro, indica um ser especial, de exceção. O que deveria ser regra, mais frequente, infelizmente é regalia. E você regalou-me com fé.

Indignada com a postura limitada das gentes que empunham bandeira apenas em tempos de copa, vitória de esporte - patriotas "de ocasião" - avisto à minha frente sinal aparente de vida inteligente: vestígio, gesto, expressão de um cidadão.

Depois de desaparecidas, expulsas as dezenas de bandeiras desfraldadas às janelas enquanto corria a esperança de bola; balança essa - a sua - recém chegada à sacada. Enquanto as outras todas sucumbiram, foram-se, sumidas, essa foi colocada após, em espaço até há pouco colorido só de tinta sobre cimento.

O olhar que passeia diariamente pelo redor surpreendeu-se... com algo bom. Muito melhor que todas aquelas flâmulas de semanas atrás. O olhar atento que contempla sempre o céu sobre a cabeça, observa ruas, seres, edifícios... contentou-se com a imagem solitária: uma bandeira nova - a sua - em cores indicativas de compra fresca, aquisição recente. Não decorava a sacada antes, não estava lá durante, não fazia coro às demais, meras alegorias.

Entre tantas janelas nuas, pálidas, rendidas, acomodadas... uma sacada - a sua - aparece com algo mais, soa valente. Acena com sentido, uma noção de civismo. Porta emblema com mais peso, sugere outro espírito... mais consciente.

Sorrio com satisfação. Aqui, do meu canto, vislumbro esperança. E o agente deste presente é você, que mora em frente. Seja lá qual for seu nome, agradeço. Seu gesto tem meu aplauso, faz-se digno de apreço.