Uva... passa

Nem sempre é doce a fruta fresca. Sua passa, entretanto, apesar de figura enrugada, tem essência apurada... em benesses alcançadas por processo natural. Enquanto o envoltório murcha, açúcares tendem a concentrar-se em curso de madureza.

É humano o julgamento de teores por aparência. Escolhas seguem essa tendência. Prioriza-se o bonito em altíssima frequência. É atávico, instintivo. No quesito preservação da espécie, beleza auxilia a por mesa. Esclarece a ciência: como meio de seleção natural.

Nem sempre justo, entretanto, basear escolhas, realizar julgamentos ante apenas essas premissas de embalagem. O que é senão imagem, propaganda nem sempre compatível com o que porta o interior ?! Casca não garante recheio: pode enganar "comprador". Fruto algum traz à cápsula o aprazível de sua polpa. O visível, atraente, é possível referência: indicativo, sem seguro de sabor.

A maturação, via de regra, acompanha a marcha do tempo. Avança-se em vigor... até que, após um ápice, esse vem a decrescer. Paralelamente, outros atributos - antes diminutos - tendem a prosperar, progredir, transformar-se em conteúdo melhorado: benesse do envelhecer.

E assim caminha a humanidade, ou melhor, a natureza !... Segue padrões, regras, tem exceções... de forma a acrescentar entre o perder. No durante antes do fim, adjetivos oscilam em curvas, navegam parábolas de trocas, ondas de sobreposições.

Relacionamentos podem ter início despertados pelo visível, baseados em "vidências"... mas serão positivamente edificados, edificantes, tão somente se fundados em elementos de peso, alicerçados em estruturas mais sólidas... de valores intrínsecos pessoais.

Assim, antes de julgar apenas pela capa da mala, interessante explorar o viajante, apreciar, aquilatar sua bagagem... inacessível à visão. Antes de sentenciá-lo pelo invólucro que porta, pelo casaco que veste - velho, novo, enrugado ou não - proveitoso ponderar que também há de secar. A tendência de tudo e de todos é "passar" !... Sendo isso doce ou não.