terça-feira, 12 de agosto de 2014

Meditações



Não sou tudo que gostaria de ser. Falta-me espaço.
Precisaria eu de muitas de mim, e talvez outras, para bastar-me.
A que sente - e depende disso para ser - precisa abastecer-se de tantas fontes !...
A que olha ao redor, bebendo tudo, precisa virar-se do avesso, voltar-se para dentro, mergulhar o mundo que contém... para assimilar o alheio, prover-se de mais.
Somos o que absorvemos. O que me recheia depende do que abraço, do que acolho, do que cultivo. E o que consigo às vezes ressente-se de não ir além. De não alcançar, e colher, e integrar, e desfrutar as tantas possibilidades - por exemplo - de um dia, num só dia.
Porque é preciso viver um momento por vez, com plenitude !...
Dividir-se é possível, é viável, acontece... cobrando alto. Dividir-se, num instante, é superficializar-se, sobrenadar a experiência, o muito que pode conter.
O caminhar pede um passo por vez. E não adianta pressa... se o objetivo for estar presente. Não adianta pressa sob pena de perder o importante, às vezes entre espaços, velado, disfarçado em frestas.
Assim, o eu que quer abraçar o mundo sabe que deve concentrar-se, observar, verter a gota do instante. E naturalmente não dá conta de tudo o mais que a mente pede, que o mundo de fora demanda.
E para, e pergunta, e roga... e recebe resposta: o universo conversa !
Então sossega... regrando ações, respirando sem ânsia, reordenando o passo da hora, a ordem do dia.
O ente cumpridor de tarefas só pode existir são, sem enlouquecer, se antes, durante, depois - acompanhando o conjunto - for um ser pensante, meditativo, que age, sente... e pondera.
O ente autômato, que apenas segue, sem avaliação de sentimentos, consequências... leva corpo, arrasta existência: só está... com pouco ser. E a estada é pesada, e seus sabores são pobres.
Não posso, não sei viver sem sorrisos ! O que pode ser de mim, então, se não plantar-me sementes... para colhê-los reais, estampados na face, em emoção, concretamente ?!
Assim, o eu que quer abraçar o mundo sabe que deve concentrar-se, observar, verter a gota do instante. E sossega... regrando ações, respirando sem ânsia, reordenando o passo da hora, a ordem do dia. E só assim pode viver: um por vez, atentamente. Só assim sabe ser... feliz.