terça-feira, 8 de abril de 2014

Afeto: o que ata



Uma cola há, invisível e poderosa, atando os elos que nos unem. Muitas são as razões que nos aproximam, poucos os substratos que nos mantêm tão ligados quanto o afeto. A existência em sociedade promove reuniões, dirige aos relacionamentos. Dos grupos familiares aos círculos profissionais, alguma convivência é mandatória, imperativa. E variados são os graus de vínculo: de profundos, verdadeiros, a superficiais, formais.

Ainda que a voz do sangue seja potente, pode não ser suficiente. Atrelar nome a um DNA, à origem do sangue corrente, é diferente de vivenciar o elo, viver a conexão, efetiva união. Associar espaços, compartir tempo, pão, impérios... não assegura estima. Dividir teto, partilhar paredes, portar certidões, sobrenomes... não atesta afeição.

Muitos são os papéis desempenhados "em forma", parcos em conteúdo: sem essência, sem saber, sem prazer... e mesmo à revelia. Muitas são as ações impostas, sem o tempero importante do querer, com o gosto da força, da necessidade, do dever. E quantas as reações automáticas, sem doçura, sem ternura... ou desmedidas de desejo, sem o ensejo positivo da emoção ?!

Homem é bicho de instinto... e de alma. De carne que carece de alimento concreto e coração que depende de sustento distinto. Ser humano é soma ampla, imensa, que sobrevive e se adapta a enorme leque de condições. Cria, cresce, melhora-se... frequentemente da falta. Contudo, não se completa, e oscila, e pende ao pior em ausência de afeto.

Autêntico, esse é o laço que nos ata, enreda em nós indissolúveis, ligando-nos com força superior a das células, vencendo distâncias, tempo e cifrões. Genuíno, é arrimo, esteio, fundamento que resiste aos desastres naturais e auto impostos, gerando eternidade. Nascido em presenças, nutrido em trocas, suplanta diferenças. Não sucumbe às ausências, sendo imortal posto que é chama... pronta a reacender-se ao mero assopro de uma cinza.

Ainda que em nossas listas de prioridades a palavra possa não aparecer em negrito, encabeçando uma sequência de itens geralmente mais materiais, na prática é veículo que move, recheio que preenche, vetor que impulsiona a tudo mais.

Afeto é joia, alimento, moeda, riqueza, herança... impalpável, transparente e potente. Elemento que anima, argamassa que sustenta... na alegria, na tristeza e na dor.

Pobre o ser que não o sabe, não o sente, impotente em dar e receber.
Rico o ser que vive a chama, amante do outro... e assim de si.