Mapas

Não há fuga... e remorsos são inúteis. Todos temos passado, portamos marcas, sequelas, cicatrizes, ainda que não à mostra. Todos temos história... escrita, pintada entre linhas, com as cores do saber e do poder presente, de então. Impossível passar uma borracha. Rever, de fora, depois, com certo distanciamento, pode ser mais produtivo. 

Seguimos etapas naturais, positiva e negativamente relevantes, sem as quais não haveria crescer. Capítulos a não ser relegados, esquecidos... mas revisitados, percorridos pela memória, antes de prosseguir. Cegamente se anda. Anda-se melhor, entretanto, apoiado por lentes de olhos frescos... e ao mesmo tempo mais vividos. Olhos não coniventes com as vendas daqueles momentos, não reféns daquelas amarras.

Entre sonhos, vivemos pesadelos... que muitas vezes nos despertam. Também os sustos podem ser preciosos assessores de mudanças. Nosso armário de existência recebe roupas novas, mantendo outras, maculadas, às gavetas: já tiveram um lugar à vista. Alteram-se status, permanecem lembranças, retratos de caminhos percorridos: escolhas nem sempre ponderadas... que nos trouxeram até aqui. Bobagem brigar com isso !  Nenhum mar é sempre manso. Ondas, marés, ressacas agitam oceanos. Forças alheias às águas também as movimentam, impulsionam.

Raramente utilizamos mapas prontos, pré aprovados, tomando-os à risca. Nem sempre estamos preparados, somos capazes, hábeis em seguir exemplos ou teorias comprovadas. Tendemos a trilhar por palpites, presunções... ampliando bagagem, deixando as próprias pegadas, indeléveis ou não.

Olhar para trás não deve paralisar mas, ao contrário, mover com mais sentido, ajudar a ajustar rotas, dar novos rumos, direção. Olhar para trás tem o poder de nos trazer mais conscientes ao presente: mais alertas, mais atentos, mais capazes de imprimir passos produtivos... para o bem. Olhar para trás, pesar passado, não deve ser um fardo, mas uma porta para o crescimento e, quem sabe, libertação.