segunda-feira, 23 de junho de 2014

Pesos e medidas... da Amizade



Definir amigo pela razão, através das palavras, requer um passeio, primeiro, pelo coração. É coisa que não se faz sem experiência, test drive, percorrendo dicionário, partindo do não vivido. Como com felicidade, demanda o viés da vivência, transitando pelo tom todo particular da emoção de cada um.

Já naveguei vários conceitos, tentativas bem adequadas, aparentemente corretas ao demonstrar seu peso, importância, em dar noção de seu valor. Parecem, contudo, sempre parciais, tamanha a extensão de seu abraço aos sentidos pessoais.

Diz-se que amigo é o ser presente, ou aquele com que se pode contar... e não somente companheiro de deleites, alegrias. Diz-se que é ente com quem se sente em casa, sem dividir mesmo endereço, partilhar paredes da matéria: com quem se vive a sintonia. Que é família sem sangue, escolhida, presenteada da alma, da vida. E tantas outras definições !...

Todas me soaram, até aqui, singelas, embaladas em colorido bem-vindo, boas de ouvir, fáceis de aceitar, de digerir, de apreender. Uma bem recente, abalroou-me, colheu-me, contudo, em susto. Definiu a relação sublime em termos firmes, pelas vias de um senso "negativo", sentido de subtração. Despertou um olhar diferente, de quem se questiona e concorda, soma sobressalto a identificação.

A afirmativa - que parece não fazer jus à beleza do laço, essencialmente de afeição - encontra, em razão, uma verdade... a somar-se às demais acepções. Diz-me alguém especial, que amigo é quem suporta a alegria do outro "irmão".

A assertiva acolhida, marinada em silêncio, verte aqui em termos outros, com adendos, em versão peculiar. A de que amigo é quem suporta... em inglês: exprimindo apoiar. Quem assiste, testemunha alegria alheia... com brilho no olhar. Vibra com o outro, ecoooa... satisfação, antes particular. Quem abriga-a, alberga-a... a pulsar também em si, ressonando energia.

É extremamente doce o sabor desse vínculo - edificado a dois, dirigido em mão dupla. É imensa a importância dessa presença... sem a qual vida restringe-se em existência. Morar no outro, contudo, é mais que apenas encontro: desafio e conquista.

Como toda relação de bem querer, não deve tirar, mas acrescer. Não deve prender, mas amparar, suster. Não deve limitar mas, dividindo, oferecer. Relações de amor devem servir afagos... sem traduzir-se em cobranças. Podem passar por sustos... mas devem passear por carinhosas exclamações.

Amizade é ligação preciosa demais para depender de definições precisas. Assim, sem cercas... mas sob cuidados, sobrepõe-se a tempo e distância... tendo o espaço das almas, habitando o universo dos corações.