quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Coisa de gente grande



Gente grande tende a pensar que sabe, achar que pensa, que é mais, melhor.
Isso às vezes é verdade. É também uma bobagem... quando do alto de alguma maior idade, veste a seriedade aniquilando o bom humor. Passa a ser grande tolice... quando desaprende a brincar, deixa de sorrir: quando mata a criança interior. Assim, o mundo do adulto muito sério, ensimesmado, apequena-se... e pesa, faz-se fardo, acresce dor.

O desafio do ser grande, que madura, é também amolecer, adoçar... no ponto certo. Do contrário, há de murchar, amargar... sem perceber e desfrutar sutis prazeres, que devem vir com os deveres, florindo com frequência, e não como exceção.

O grande desafio é crescer com a criança, que não sabe e pergunta, que teme e que se assusta... assumindo que não atina, ansiando entender. E ri do erro, pede auxílio... querendo ser capaz, procurando aprender.

Sim, o adulto, ente que cresce, também tem medos, incertezas, fragilidades. Independentemente da estação, tem receios, dúvidas, dificuldades: nunca dominará todas as variáveis das equações de viver.

Tal qual criança, por vezes se apoiará na esperança... sem nada mais com que contar. Tal qual criança, buscará conforto em abraço, afeto... mais que em qualquer objeto, satisfazendo-se com sensações. Tal qual criança será feliz se estiver no momento, inteiro, atento... seja lá quanto durar.

Nós, supostos grandes, temos muito a apreender com os pequenos... que não adiam alegrias, não delegam esse poder ao amanhã. Que nada sabendo sobre futuro, possibilidades do tempo - o que pode vir adiante, o que pode ser depois - alimentam-se intensamente do momento, que é muito.

O grande desafio é ter parte e ser bastante: todo, pleno no instante. Para, então, viver o próximo, diferente, do mesmo modo: com deleite e com vigor. E encarar lacunas, dissabores, perdas, incertezas, diferenças... com menos dor.

O grande desafio é não ser só a porção solene, executora de tarefas, cumpridora de dever. É amadurecer... com leveza, zoando do erro, tirando partido dele, aceitando que ganhar tem lugar entre o perder. E acoplar o novo... sem desdenhar o antigo. E somar rugas... sem eliminar encanto. E cair, e chorar... e insistir em tentar. E levantar, e seguir... e, outra vez, sorrir.

Isso é coisa de gente GRANDE !