terça-feira, 21 de outubro de 2014

Liberdade & Responsabilidade & Política



Às voltas com mais um momento de decisão crucial para o país, impossível não filosofar sobre nossos deveres e direitos, sobre o papel do cidadão nesse contexto. Pouco ou muito politizados, somos todos responsáveis por nosso destino conjunto. Ainda que uma andorinha não faça verão, que uma unidade, em singular, resolva nada, o produto da operação depende dessa ação "isolada". O aparentemente irrelevante é fundamental.

Em poucas oportunidades a liberdade política é tão bem representada e exercida quanto ao momento do voto, secreto. Ainda que o exercício do pleito, neste país, não seja uma opção, a possibilidade que engendra o referenda como tal: seu agente tem a ação "final".

O que o eleitor coloca numa urna é ao mesmo tempo o sonho da matéria e a matéria do sonho. Ali depositamos tijolos abstratos para obras, construções concretas. Em gesto de instantes, semeamos colheitas futuras. Responsabilidade demais para desconsiderar !

Quando uma das alternativas já foi testada, eleição é espaço para demonstrar satisfação, concordância... ou não. Referendar mecanismos e resultados... ou atestar anseio de mudanças. Votar em candidato e sistema vigentes é prestigiar seus feitos, aprovar-lhes os atos, compactuar com eles. Endossar sua regência em palcos... e bastidores, assinando nova procuração.

Buscar outras possibilidades, mais que uma prerrogativa, é dever do insatisfeito. O que pode mudar se o agente da ação não muda ? Portanto, ainda que a oferta não pareça estar a altura da demanda, há uma escolha, e ela é decisiva: ratificar o presente ou tentar diferente.

É bem verdade que em universo de ofertas ruins muito difícil operar boa escolha. Contudo, a cada rodada apresentam-se cartas melhores e piores, e diferenças são mensuráveis... ao menos por comparação. Na falta de elementos redentores, de seres acima do mal, a tarefa do eleitor é obter informação. E analisá-la. E contrapô-la.

Há quem abstenha-se de exercer esse poder, negando-se a participar do processo, como forma ilusória de protesto. Há quem abstenha-se de exercer esse poder indo às urnas em cumprimento de dever, inconsciente da importância de seu ato, realizando-o como obrigação, sem reflexão. Há quem abstenha-se de exercer esse poder delegando-o a terceiros, seguindo manadas ou cedendo a acenos de "ganhos" privados pífios. Assim, com olhar raso de curto prazo, vendendo-se barato para, provavelmente, pagar caro depois, em penosas prestações.

Pouco temos do coronelismo de outrora, efetivado pelo voto de cabresto. Pouco evidentes são as trocas acintosas por cadeiras de rodas, dentaduras ou afins. Os mecanismos de convencimento e favorecimento desenham-se um pouco mais sutilmente. Mas, infelizmente, continuam a fazer vítimas.

Que não se vote em candidato apenas porque isso foi feito antes, no passado. Que o ato importante do voto não tenha a face da acomodação, nem do alheamento, nem da teimosia. Que ele receba, previamente, o mínimo que se deseja do eleito: atenção e respeito. Que tenha peso de ouro agora... para que, no futuro, tenhamos orgulho dele... e de nós.