sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Dieta certa



Passe o pente pela memória, mencione um poeta obeso. Experimente, faça um esforço. É, parece que não há.

Poetas não engordam além da conta. Antes de mais nada, são seres alheios a números, entes de outro universo. Apesar de alguns ainda usarem métrica, suas formas de medida são as do sentimento, da emoção. E peso é múltiplo de massa, coisa de física com matemática: simplesmente uma equação. Assim, não se torturam com tabelas, não frequentam as balanças: são desvios do padrão.

Poetas não engordam além da conta. Acima de tudo porque têm prazer, muuito prazer ao escrever. Isso posto, em disputa de atenção, o prato tende a perder. O sólido está também no etéreo.

Poetas não comem apenas com a boca. Alimentam-se com o olhar, são afeitos mais a ver. Nutrem-se ao contemplar. Também ao ler. Abastecem-se de sentir muito mais que de engolir. Bebem imagens feito água, mastigam o mundo no pensar. Com detalhes, devagar. Absorvem sensações, namorando cada instante. Ahhh, e como isso é viciante !

Mas que ninguém se iluda, não basta apenas escrever. É pouco prosear. Os seres praticantes só da prosa são mais sossegados. Escrevem sentados. Somam barriga mais facilmente. Poetas versam ajoelhados, dando graças às bênçãos... e às rimas recebidas. E, principalmente, não param, exercitam-se: portam pesos em palavras, somam odes, pulam, enchem linhas... noite e dia.

Então, ainda que você não tenha veias de atleta, seja andarilho dos versos, viaje... por essa atividade. Fica minha sugestão: saboreie poesia. Pouco a pouco, dia a dia. Depois mais, sem moderação. É dieta que faz bem ao coração !