sexta-feira, 26 de junho de 2015

Asas e ninhos



Do que carecemos para desfrutar de bem-estar ? Respostas assertivas talvez sejam viáveis hoje, agora, num determinado momento. Ainda sim, é um talvez. Nossas certezas são tão momentâneas e frágeis que, por mais que nos julguemos capazes de ir além, não ultrapassamos o terreno das respostas provisórias, pontuais.

Quais nossas necessidades internas pessoais ? Se chegamos muitas vezes a questionar, duvidar dos próprios sentimentos, que dizer sobre a constelação de pretensas razões que nos assolam ?! Qual a extensão consciente dos próprios desejos ? Nem no espaço tão exíguo de um 'agora' podemos nos afirmar plenamente construtivos, competentes. E o próximo instante, o que pode outorgar, o que pedirá de nós ?

Identificamos necessidades genéricas à espécie mas o bem-estar do indivíduo é um mistério renovado incessantemente, auto revelado ou não. Nossas demandas são tão mutantes quanto a vivência de cada um. Somos seres em eterna aventura pelo vasto espaço pessoal.

Nossa natureza é dinâmica. A sobrevivência impulsiona-nos ao movimento: o que permanece parado tende a perecer. Realizamos ajustes ansiando prosseguir melhor. Nos é inerente o desejo de sair do lugar, o anseio pela conquista... como passos no processo de maturação, evolução, ou simplesmente para alçar condições mais positivas de existência. Deixar-se levar - eventualmente oportuno - não pode ser perene, sob pena de subtrair-nos do exercício do viver e de crescer.

As relações entre meio interno e externo são inegáveis mas nem por isso de fácil identificação, rasa análise, simples expressão. O que nos rodeia nos atinge, repercute em nós. O que nos cerca nos reflete. Revelamo-nos em nosso ambiente e nosso ambiente nos revela, sendo simultaneamente imagem e espelho, semente e fruto.

Somos natureza, o conjunto: jogo de forças e fragilidades, energias fazendo cócegas, produzindo faíscas, redemoinhos... gerando estímulos, impulsos... querendo tomar corpo, alçar forma, verter em atos concretos. O universo da casca de noz precisa ganhar o mundo sob forma de ação. O que povoa o interior do ser pede passagem, solicita saída, expressão, configuração em algo nominável. A transformação de espaço aéreo em pista de voo, de ideia em ato, de demanda em realização cabe a cada um.

Nem sempre somos promotores conscientes de nossos movimentos, operando como veículos de uma força que se mostra em consequências. Oscilamos, assim, sendo brisa, vendaval, e às vezes furacão. Contudo, quem busca colocar alguma ordem em território interno, comumente o faz também objetivamente onde pousa, fora de si.

O ninho também revela o passarinho.